segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Algumas reflexões sobre a construção de identidades

Duas reflexões, duas opiniões diferentes, sobre as actividades sociais online e desenvolvimento da identidade nos jovens:

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"O texto que apresentam aponta na introdução alguns aspectos, que julgo que devemos ter presentes ao reflectir sobre o tema desta unidade:
Nem todas as crianças e jovens têm acesso às novas tecnologias: os países menos industrializados/mais pobres; nos países industrializados existem diferenças substanciais no acesso a estas tecnologias, quer por opção das famílias que valorizam outras actividades e formas de interacção, quer por circunstâncias de ordem social, cultural e económica.
O uso das novas tecnologias não é exclusivo das crianças/jovens. Existem muitos adultos que dominam estas tecnologias, interagem socialmente, trabalham e aprendem com e através delas.
A construção da identidade, particularmente relevante na adolescência faz-se em interacção com os outros. O uso das novas tecnologias veio permitir o aumento da frequência da interacção e alargar enormemente o que entendemos por “outros”. Do grupo de amigos da era pré-digital, restrito, definido e constante, passamos ao grupo de amigos reais e virtuais, diversificado e em constante expansão e alteração, da era digital.
Os jovens continuam a manter relações presenciais e físicas, a possuir um grupo de amigos com quem convivem em situações reais. Mas, para além desta interacção em situações reais os jovens têm a possibilidade de continuar a interagir em situações virtuais mediadas pela tecnologia com estes amigos e com outros que apenas conhecem virtualmente.
As novas tecnologias vêm permitir o prolongamento em outros tempos e espaços virtuais das relações mantidas presencialmente aumentando o número de interacções e o tempo de interacção para além do que as suas rotinas diárias e compromissos vários permitem fazer presencialmente.
Nunca estão sós. Podem através das novas tecnologias, a qualquer momento e em qualquer lugar, interagir com outros.
As novas tecnologias permitem desenvolver a aprendizagem, a reflexão, a auto-análise, o espírito crítico, a criatividade, a capacidade de interacção social, a construção da identidade pessoal e social.
Os jovens exploram as tecnologias que lhes são disponibilizadas e colocam-nas ao seu serviço: para comunicarem, interagirem, se afirmarem, se projectarem, se construírem e se integrarem no mundo e sociedade que os rodeia.
Maravilhados pelas potencialidades que estas lhes abrem podem tender a desvalorizar outras formas de interacção e afirmação.
A minha experiência permite-me concluir que existem jovens que apenas comunicam com e através das “maquinas”, mas a maioria integra estas formas de interacção no seu quotidiano de forma mais ou menos equilibrada, combinando-a com outras formas de interacção e com actividades reais e presenciais. Agendam a ida ao cinema por telemóvel, comunicam durante o filme as suas opiniões sobre o mesmo por sms, pirateiam cenas do filme com o telemóvel, afirmam-se através de toques dados durante a sessão e conversam e brincam no intervalo. Interagem de todas as formas possíveis. Afirmam-se e tornam-se mais seguros pelo suporte e aprovação de quem está presente e pelo suporte e aprovação daqueles com quem interagem virtualmente. Maritza Dias

"A adolescência é o período de transição entre ser criança e adulto. Neste período, o jovens experimentam uma série de transformações físicas e psicológicas que estão na base da construção da personalidade e irão determinar a sua identidade. Neste processo é importante o contexto em que o jovem está inserido e o feedback que tem dos outros mas, apesar disso, é, muitas vezes, um caminho solitário e doloroso.
A criação online de páginas pessoais e de blogs deriva do que antigamente se fazia com os diários e os livros de autógrafos (eram uns livrinhos onde os amigos deixavam mensagens, lembram-se?), servem para reflectir e receber feedback, mas agora com um âmbito mais global, ao jeito dos nativos digitais. A produção online é uma forma dos jovens se exprimirem sobre assuntos que não têm eco no seus pares mais próximos ou sobre os quais não o conseguem fazer de modo directo, para além de dar a sensação de pertença ao grupo.
É também característico deste período da vida a sensação de que não são ouvidos por ninguém e, nesta perspectiva, a produção online é encarada como uma oportunidade de serem ouvidos por muita gente e receberem feedback.
Quanto a mim, este é um meio, de facto, de construção da identidade, de “desabafo”, de protesto, de fantasia, que é tão válido como outros. O único perigo que vejo neste tipo de produção online prende-se com a possibilidade dos jovens se refugiarem totalmente na produção destas páginas deixando de comunicar directamente com quem lhes está próximo e não acede às suas páginas."
Zélia Delgado

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Imagem retirada de www.glasbergen.com, a 15/01/2009

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