segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Análise de sites sociais de jovens

A 4ª actividade proposta nesta unidade curricular consistia na análise de um site social (Hi5; Facebook; Myspace, ou outro).
O nosso grupo, de três elementos optou pelo MySpace. Analisámos 3 páginas de três utilizadores, apresento aqui uma breve conclusão.

Nota: os nomes apresentados são fictícios.


Conclusões
"Apesar do número reduzido de páginas analisadas, conseguimos perceber que os utilizadores deste site, apesar de terem em comum a intenção de comunicar com o mundo, serem movidos pela curiosidade e “criarem” a sua identidade, fazem-no de forma distinta e com finalidades diferentes:
- a Marisa procura pessoas com quem possa estabelecer uma relação de proximidade, baseada em afinidades; também gosta de adicionar pessoas famosas no seu grupo de amigos;
- a utilização que o Baltasar faz da página aponta para a eventualidade de uma exploração pragmática/produtiva/profissional dos seus conteúdos;
- a Karenina utiliza o MySpace como mais um local de convívio com os seus amigos. O MySpace também lhe potencializa novos conhecimentos que, a interessarem, passam do virtual para o real.
Globalmente, nas páginas do MySpace a linguagem escrita perde importância face à fotografia, ao vídeo e à música. As vertentes visual e áudio são assumidas como formas de expressão por excelência, pelo que muitos utilizadores deste site aproveitam para revelar os seus talentos e as suas experiências/ manifestações artísticas.
Assim, este espaço assume uma outra função, para além da socialização virtual.
O MySpace é um local neutro e acessível, no qual a divulgação e reconhecimento dos diferentes talentos é possível. " Trabalho de grupo: Carla, José e Verena

Comentários sobre os trabalhos de análise de sites sociais

Um comentário que permite estabelecer uma comparação entre os sites analisados, o MySpace e o Hi5. As preocupações com a segurança na Internet e a construção de identidades foram temas dominantes nos fóruns de discussão desta Unidade Curricular, o segundo comentário estabelece essa relação.
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"Da leitura dos trabalhos apresentados, podemos destacar alguns pontos em comum:
1 -Nas sociedades contemporâneas globalizadas, a utilização da Internet e das novas tecnologias veio reforçar a interacção com os outros, principalmente a comunicação à distancia, sendo utilizada maioritariamente pelos adolescentes/ nativos digitais.
2- A Internet, ao possibilitar múltiplas formas de interactividade e comunicação, permite abrir novas formas para a construção de múltiplas identidades e de expansão das redes de relacionamento com uma quantidade de pessoas conhecidas e anteriormente desconhecidas.
3- Os sites de interacção social, como o MySpace e o Hi5 acabam por desempenhar um papel muito importante na construção da identidade dos jovens.É visível o grau de empenho e de motivação dos jovens na gestão do seu espaço e na interacção com os outros, visível também no tempo que aí passam.
4- O MySpace e o Hi5 são duas ferramentas que devido ao contexto em que são utilizados formam redes sociais, ou seja, são formas de representação dos relacionamentos afectivos ou profissionais dos seres humanos entre si, ou entre grupos que possuem interesses e objectivos em comum e também valores a serem compartilhados.
5- Tanto o MySpace como o Hi5 permitem a criação de grupos e comunidades onde são partilhados interesses, opiniões, gostos e ideais. A adesão a estas comunidades, tem como expectativas encontrar pessoas que tenham estes, e outros, aspectos em comum, de forma a partilhar informações e dar resposta a necessidades." Eduarda Fernandes

"Os adolescentes utilizam este recurso fundamentalmente para manter ou alargar redes sociais, jogando-se nesta interactividade um jogo de sedução. Sabem que têm de ser aceites pelo grupo, têm de jogar segundo as mesmas regras, têm de parecer "cool" aos olhos dos outros. Esta consciência condiciona as opções que fazem em termos da construção do seu perfil , daquilo que revelam ou escondem. Assumir num perfil, que se sabe público e visto pelo grupo a que se pertence, opções pouco conformes às normas (sejam elas em termos estéticos ou de conteúdo – o que se pensa, do que se gosta, etc ) tem as suas consequências e só alguém seguro de si ( o que não acontece normalmente nesta fase da vida) o faz. Os perfis que analisámos, de forma geral, apontam para uma certa uniformidade reveladora de uma cultura comum e de um desejo de pertença a essa mesma cultura de grupo.
Relativamente à revelação da sua identidade, também os autores das páginas a que acedemos a evitam. Também eles, no entanto , e numa aparente incongruência, apresentam um razoável número de fotografias. Estas são ingrediente essencial numa apresentação de si mesmo , fazem parte deste corpo virtual que é o perfil. Se quer alargar a sua rede de contactos sociais, o adolescente tem de poder dizer ”este sou eu”. E nesta apresentação, o aspecto físico é determinante. Aquilo que na vida real é impossível - a escolha do que se considera o melhor lado de si mesmo - torna-se uma possibilidade online (aliás todo o perfil é de certa forma a apresentação de “a bright shining me”) : as fotografias são certamente seleccionadas, muitas revelam situações de pose, outras, atitudes de alegria, de irreverência (atitude considerada típica na adolescência), em situações de lazer, em grupos de amigos, raramente com a família. Mais uma vez a sedução, mais uma vez a vontade de agradar, de ser cool. Mais uma vez, também, o cumprimento do estabelecido: se todos apresentam fotografias, o adolescente faz o que os outros fazem e guarda as reservas e preocupações para os dados de identificação e de contactos que oculta.
O hi5, como os outros SNS, constitui um novo espaço de sociabilidade, para onde se transpõem muitas das regras do jogo social da vida real, mas onde o carácter diferido da comunicação permite uma maior reflexão sobre o que se diz e como se diz e onde o feedback se faz fundamentalmente através da palavra ou da imagem (fives) de forma directa e clara. Na reflexão sobre si, sobre o que se pretende do outro, sobre o feedback que se obtém do outro, joga-se a construção da identidade, tarefa que nos acompanha ao longo da vida e de importância crucial na adolescência." Cecília Furtado
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Imagem retirada de www.glasbergen.com, a 26/01/2009

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Actividades sociais online e desenvolvimento da identidade nos jovens


Juventude, identidade e médias digitais


A terceira actividade sugerida nesta unidade pretendia aproximar-nos dos actuais processos de desenvolvimento da identidade dos jovens. Para isso analisámos o seguinte texto:
Sandra Weber, Claudia Mitchell (2008) Imaging, Keyboarding, and Posting Identities: Young People and New Media Technologies.Youth, Identity, and Digital Media: 25–47.http://www.mitpressjournals.org/doi/pdf/10.1162/dmal.9780262524834.025

O nosso grupo chegou à seguinte conclusão:

O processo de construção de identidades, no mundo actual, não difere muito dos processos de construção verificados noutras alturas. Aquilo em que difere substancialmente é nos meios utilizados. Todos os recursos tecnológicos disponíveis hoje em dia potenciam novas formas de comunicar, novas formas de nos expormos, possibilitando, provavelmente de uma forma mais fácil, a exposição selectiva das nossas características. Com as novas tecnologias, as redes de comunicação e amizade são mais extensas e diversificadas, caracterizadas normalmente por uma ausência de contacto físico. Essa ausência de contacto permite a reconstrução da nossa identidade e o respectivo reajustamento, mediante o interlocutor.

Como alguém disse, um dia, podemos seguir um das três identidades de nós mesmos:
1- O que nós pensamos de nós mesmos.
2- O que os outros pensam de nós.
3- O que realmente nós somos.
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Trabalho de grupo: Carla Ferreira, José Boal e Verena Ribeiro
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Há, no entanto, algo que nos afasta desta nova geração: as experiências de vida além das quatro paredes...

Algumas reflexões sobre a construção de identidades

Duas reflexões, duas opiniões diferentes, sobre as actividades sociais online e desenvolvimento da identidade nos jovens:

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"O texto que apresentam aponta na introdução alguns aspectos, que julgo que devemos ter presentes ao reflectir sobre o tema desta unidade:
Nem todas as crianças e jovens têm acesso às novas tecnologias: os países menos industrializados/mais pobres; nos países industrializados existem diferenças substanciais no acesso a estas tecnologias, quer por opção das famílias que valorizam outras actividades e formas de interacção, quer por circunstâncias de ordem social, cultural e económica.
O uso das novas tecnologias não é exclusivo das crianças/jovens. Existem muitos adultos que dominam estas tecnologias, interagem socialmente, trabalham e aprendem com e através delas.
A construção da identidade, particularmente relevante na adolescência faz-se em interacção com os outros. O uso das novas tecnologias veio permitir o aumento da frequência da interacção e alargar enormemente o que entendemos por “outros”. Do grupo de amigos da era pré-digital, restrito, definido e constante, passamos ao grupo de amigos reais e virtuais, diversificado e em constante expansão e alteração, da era digital.
Os jovens continuam a manter relações presenciais e físicas, a possuir um grupo de amigos com quem convivem em situações reais. Mas, para além desta interacção em situações reais os jovens têm a possibilidade de continuar a interagir em situações virtuais mediadas pela tecnologia com estes amigos e com outros que apenas conhecem virtualmente.
As novas tecnologias vêm permitir o prolongamento em outros tempos e espaços virtuais das relações mantidas presencialmente aumentando o número de interacções e o tempo de interacção para além do que as suas rotinas diárias e compromissos vários permitem fazer presencialmente.
Nunca estão sós. Podem através das novas tecnologias, a qualquer momento e em qualquer lugar, interagir com outros.
As novas tecnologias permitem desenvolver a aprendizagem, a reflexão, a auto-análise, o espírito crítico, a criatividade, a capacidade de interacção social, a construção da identidade pessoal e social.
Os jovens exploram as tecnologias que lhes são disponibilizadas e colocam-nas ao seu serviço: para comunicarem, interagirem, se afirmarem, se projectarem, se construírem e se integrarem no mundo e sociedade que os rodeia.
Maravilhados pelas potencialidades que estas lhes abrem podem tender a desvalorizar outras formas de interacção e afirmação.
A minha experiência permite-me concluir que existem jovens que apenas comunicam com e através das “maquinas”, mas a maioria integra estas formas de interacção no seu quotidiano de forma mais ou menos equilibrada, combinando-a com outras formas de interacção e com actividades reais e presenciais. Agendam a ida ao cinema por telemóvel, comunicam durante o filme as suas opiniões sobre o mesmo por sms, pirateiam cenas do filme com o telemóvel, afirmam-se através de toques dados durante a sessão e conversam e brincam no intervalo. Interagem de todas as formas possíveis. Afirmam-se e tornam-se mais seguros pelo suporte e aprovação de quem está presente e pelo suporte e aprovação daqueles com quem interagem virtualmente. Maritza Dias

"A adolescência é o período de transição entre ser criança e adulto. Neste período, o jovens experimentam uma série de transformações físicas e psicológicas que estão na base da construção da personalidade e irão determinar a sua identidade. Neste processo é importante o contexto em que o jovem está inserido e o feedback que tem dos outros mas, apesar disso, é, muitas vezes, um caminho solitário e doloroso.
A criação online de páginas pessoais e de blogs deriva do que antigamente se fazia com os diários e os livros de autógrafos (eram uns livrinhos onde os amigos deixavam mensagens, lembram-se?), servem para reflectir e receber feedback, mas agora com um âmbito mais global, ao jeito dos nativos digitais. A produção online é uma forma dos jovens se exprimirem sobre assuntos que não têm eco no seus pares mais próximos ou sobre os quais não o conseguem fazer de modo directo, para além de dar a sensação de pertença ao grupo.
É também característico deste período da vida a sensação de que não são ouvidos por ninguém e, nesta perspectiva, a produção online é encarada como uma oportunidade de serem ouvidos por muita gente e receberem feedback.
Quanto a mim, este é um meio, de facto, de construção da identidade, de “desabafo”, de protesto, de fantasia, que é tão válido como outros. O único perigo que vejo neste tipo de produção online prende-se com a possibilidade dos jovens se refugiarem totalmente na produção destas páginas deixando de comunicar directamente com quem lhes está próximo e não acede às suas páginas."
Zélia Delgado

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Imagem retirada de www.glasbergen.com, a 15/01/2009